30/06/2012

México teme 'narcovoto' nas eleições deste domingo


O México se prepara, neste domingo, para uma eleição decisiva - não só porque das urnas sairá o nome de seu novo presidente, mas também porque o pleito ocorre em meio à maior onda de violência da história recente do país e em meio a temores de que o narcotráfico tente influenciar os resultados eleitorais.

Nos Estados mais afetados pelos crimes ligados ao narcotráfico, a segurança se tornou uma importante demanda aos candidatos, e a campanha eleitoral foi marcada por episódios de matanças e massacres.
Sendo assim, não é de se espantar que, neste domingo, a maior preocupação das autoridades seja evitar incidentes nos colégios eleitorais e impedir o voto determinado pelos cartéis.
"Há regiões em que teremos que evitar manifestações de delinquência", disse na última quinta-feira o secretário de Governo mexicano, Alejandro Poiré. Mas ressaltou que "não podemos qualificar esta como uma eleição de medo".
Por sua vez, o Instituto Federal Eleitoral (IFE), órgão encarregado de organizar o pleito, admitiu o risco de que os narcotraficantes queiram influir na política por meio de seus próprios representantes, a exemplo do que acontecia na Colômbia no passado. Mas agregou que a sombra do narcotráfico na política por enquanto se limita ao âmbito local e que, pelo menos nesta eleição, o país não terá nenhum deputado "nomeado" por cartéis.
"Estamos em uma etapa inicial desse processo (de influência política dos cartéis), espero que possamos resolvê-lo antes que passemos a um estágio secundário", disse Leonardo Valdés, presidente do IFE, ao jornalReforma.
No entanto, já há denúncias de que ex-governadores do Estado de Tamaulipas tenham vínculos com o crime organizado. E o ex-deputado federal Julio César Godoy foi afastado do poder sob acusação de apoiar uma gangue de narcotraficantes na região de Michoacán. Os casos colocam as autoridades eleitorais em alerta.
A atual onda de violência mexicana, que já deixou estimados 50 mil mortos, começou em 2006, quando o presidente conservador Felipe Calderón foi eleito e abriu uma ofensiva contra o narcotráfico. Desde então, o México ganhou as manchetes globais com casos de chacinas, sequestros e desaparecimentos ligados a disputas entre cartéis, e entre narcotraficantes e autoridades.

Focos vermelhos

Na semana passada, representantes dos órgãos de inteligência do país e forças militares se reuniram para analisar as condições de segurança das eleições deste domingo, quando serão eleitos presidente, senadores, deputados federais, governadores de seis Estados, prefeito da Cidade do México e representantes de cerca de 900 prefeituras.
"Não há nenhum indício de ameaças ou de interesse do crime organizado em participar na eleição de presidente, senadores e deputados federais", disse à BBC Mundo Rogelio Cerda Pérez, deputado pelo Partido Revolucionário Institucional e presidente da Comissão de Segurança Nacional do Congresso e participante da reunião.
Mas ele admitiu que "há alguns focos vermelhos em alguns Estados, em nível municipal" - é nas cidades dos Estados mais afetados pela violência que a ameaça dos narcotraficantes pode resultar mais claramente num cerceamento à liberdade dos eleitores.
"O crime organizado se interessa pelas eleições municipais em algumas partes do país. Não que se importem com quem é o prefeito, mas sim com quem é nomeado chefe da polícia, porque assim podem controlar o tráfico de drogas", afirmou Cerda Pérez.

Extorsões e ameaças

O caso mais significativo - ainda que não seja o único - parece ser o do Estado de Michoacán, na costa do Pacífico. Ali, em 2011, o governo Calderón denunciou tentativas do cartel Família Michoacana de influenciar na eleição de governadores e prefeitos por meio de extorsões e ameaças.
Para as eleições atuais, o governo de Michoacán anunciou que reforçará as patrulhas em 20 minicípios considerados de "alto risco" de serem alvo de ameaças do crime organizado ou de conflitos sociais.
No âmbito federal, Calderón disse que intensificará a supervisão com tropas estatais nas áreas mais afetadas pelo narcotráfico, sem especificar quais.
Historicamente, incidentes nos colégios eleitorais são raros no México. Por outro lado, o país registra vários casos de atentados e assassinatos de candidatos a cargos públicos, entre eles o do aspirante à Presidência Luis Donaldo Colosio, em 1994, e o do candidato ao governo de Tamaulipas em 2010, Rodolfo Torre Cantú.
Na campanha atual, houve ataques - alguns deles resultando em morte - a vários candidatos a postos municipais. Por isso, alguns postulantes contam com proteção policial ou optam por fazer viagens de campanha em aviões privados ou helicópteros, em vez de transitar por rodovias.

Reportagem de Ignacio de los Reyes
foto:redebrasilatual.com.br


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