30/06/2017

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Com tantas notícias sobre corrupção, por que os grandes protestos sumiram das ruas?

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Os protestos contra a corrupção do PT e a favor do impeachment de Dilma Rousseff bateram sucessivos recordes de público entre 2015 e 2016 e marcaram a agenda de um Brasil mergulhado em uma crise política e econômica. Era o Brasil reencontrando os protestos de ruas depois do marco das jornadas de 2013, que também cobraram da classe política mais atenção aos temas caros à sociedade. A crise política dos últimos anos, porém, evoluiu para drama e atingiu patamares de surrealismo em 2017, atingindo seu ponto alto nesta segunda-feira com a denúncia da Procuradoria Geral da República contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva. Entre a saída de Dilma e a acusação de Rodrigo Janot contra Temer estão as delações dos executivos da Odebrecht e da JBSescancarando a corrupção de toda a elite política do país. Ainda assim, ao contrário dos últimos anos, não se viu uma explosão de indignação nas ruas, uma catarse como foi há dois anos.
Assim, depois de quatro anos demonstrando sua indignação em atos massivos, o Brasil parece viver uma ressaca. O que se escuta em jantares de família, em bares, em supermercados, em comércios ou cabeleireiros é quase sempre o mesmo: “adianta alguma coisa”? O gigante, que parecia acordado, voltou a adormecer.
Esther Solano, professora da Unifesp que vem pesquisando as últimas ondas de manifestações, avalia que existe uma frustração que atinge os dois lados da polarização política – isto é, tanto os que gritaram pelo impeachment como os que reagiram com o "não vai ter golpe". Já Angela Alonso, presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e professora da USP, argumenta que atos massivos "raramente acontecem na vida de uma sociedade" e que é natural, depois de "grandes ciclos" de protestos, uma ressaca subsequente. "Muitos do que ficaram nas ruas são os ativistas profissionais", explica.  Houve, argumenta ela, uma leitura equivocada de que os atos convocados por setores que ela identifica como "patriotas" fossem apenas contra a corrupção. "Muita gente foi às ruas contra o PT, e o PT já não é mais governo. Esse grande contingente que foi mobilizado já não tem a mesma motivação para se manifestar". Com isso, o Governo Temer vai se parecendo cada vez mais ao de José Sarney: com uma rejeição recorde, mas com a perspectiva de eleições diretas em pouco mais de um ano, ele vai ficando e sendo tolerado. Existe o temor de uma piora em um quadro que já é péssimo, com efeitos diretos na economia, ou seja, no bolso das pessoas.
Esse esfriamento das ruas ficou claro sobretudo com os acontecimentos do últimos meses. Em meados de maio, quando foi noticiada a existência de conversas entre Temer e Joesley Batista, grupos de direita como o Vem Pra Ruae o MBL chegaram a agendar um ato em São Paulo para o fim de semana, mas logo desmarcaram por causa, segundo argumentam, da Virada Cultural que acontecia na ocasião. Tratou-se, de todas as formas, de uma reação diferente de quando o ex-presidente Lula foi escolhido ministro e os áudios de sua conversa com Dilma Rousseff foram divulgados. A avenida Paulista foi imediatamente ocupada por manifestantes de verde de amarelo naquela ocasião. Já nos dias do julgamento da chapa Dilma-Temer pelo TSE, que ocorreu na primeira semana de junho deste ano, foram inexpressivas as manifestações de grupos de direita ou de esquerda (que viu alguns de seus setores se calarem uma vez que a cassação de Temer envolvia a criminalização da campanha petista de 2014). A pressão nas ruas também foi nula durante a avaliação, por parte do plenário do STF, sobre a permanência do ministro Edson Fachin na relatoria do caso JBS, o que colocava em jogo o ritmo da Lava Jato.
Rogério Chequer, principal liderança do Vem Pra Rua, que organizou protestos contra o Governo Dilma, acredita que a sensação de que as ruas se calaram se dá porque as manifestações entre 2015 e 2016 "foram as maiores da história do Brasil". Agora, ele explica, "existe uma decepção pelo fato de que uma melhoria econômica indiscutível não foi seguida de uma melhoria ética, o que desanima". Ele aposta, entretanto, que as pessoas e grupos chegarão mais unidos em 2018 devido ao desejo comum pela renovação política. Seu movimento tem apostado por ações em meios digitais e nas redes sociais, pressionando individualmente cada parlamentar e grupos de interesses. "É uma estratégia feita com mais agilidade e é mais efetiva", explica, citando o "mapa do fim do foro privilegiado" que, para ele, agilizou a aprovação da medida no plenário do Senado.
Ele assegura ainda que defende a saída do presidente Temer e uma transição rápida para não interferir na economia. "Estávamos esperando justamente o julgamento do TSE, que era uma chance de fazer uma transição de forma institucional e rápida. Agora estamos começando a nos organizar para fazer algo mais incisivo nas ruas. Por causa das férias de julho, tudo indica que vai ser em agosto, mas ainda não está marcado", garante. Citando o artigo 16 da Constituição, que prevê que qualquer alteração do processo eleitoral só poderá entrar em vigor após um ano, ele rejeita a ideia de eleições diretas ainda neste ano. "Zelamos pela Constituição, principalmente nessa fase de transição. Eu não gosto das eleições indiretas, mas uma mudança agora abre um precedente perigosíssimo".
Líder do Nas Ruas, Carla Zambelli admite que poucas pessoas estiveram nos quatro atos convocados em maio pelo grupo – dois em frente ao STF, um na PGR e outro em frente à casa de José Dirceu. O coletivo organiza agora um protesto contra o STF e sua lentidão para julgar os processos da Lava Jato. "O movimento não saiu das ruas, mas o povo não está comparecendo", diz Zambelli, que acredita que a população começa a enxergar uma "luz no fim do túnel" na economia. "No ano passado existia um só mote, que era o impeachment. Simples e fácil de entender. Hoje são vários: 'Joesley na cadeia', 'Fora Temer', 'Dilma sem direitos políticos', 'fora lista fechada', 'fim do foro privilegiado'... São tantas coisas que as pessoas não entendem ou não se identificam", argumenta. Ela também cita o "cansaço", a falta de "cultura política" no país e o medo de que a queda de Temer gere "instabilidade" para empresários e trabalhadores. "Para aderir ao 'Fora Temer' as pessoas têm que estar num nível de desespero que não estão agora. Com a Dilma, chegamos ao fundo do poço. Existia a corrupção e existia a incompetência. No caso do Temer, existe a corrupção, mas ele é mais competente".
Ao mesmo tempo, atos convocados por movimentos e sindicatos de esquerda contra a administração peemedebista reuniram milhares de pessoas e uma greve geral conseguiu paralisar o país por um dia em abril deste ano. Até conseguiram atrasar algumas votações no Congresso, mas foram protestos com força limitada e sem respaldo popular suficiente. Muitos desses grupos se ausentaram das ruas durante os governos petistas, perderam espaço para movimentos autonomistas a partir de 2013 e defenderam o mandato de Dilma Rousseff até o ano passado. Hoje recobram o controle das ruas que haviam perdido, mas suas manifestações são interpretadas por muitos como uma manobra pelo "volta Lula". "Esses grupos tradicionais receberam grandes choques. Foram desafiados pela direita e também dentro da esquerda, por grupos autonomistas que não reconhecem seus métodos. Houve uma crise e agora eles tentam se recuperar. Hoje as manifestações da esquerda têm os tamanhos que sempre tiveram. Mas o estilo é muito parecido ao dos anos 80. São sindicatos, carros de som, os slogans... Uma linguagem antiga para uma geração nova", explica Alonso, do Cebrap.
Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e um dos principais organizadores dos protestos contra Temer, diz não ser correto "tratar as manifestações de 2017 como descenso". Ele cita a greve geral em abril e grandes mobilizações em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro desde março.  "Há um caldo de rua forte, majoritário ao fora Temer e contra as reformas. Já não existe a divisão de antes. Ninguém nas ruas está gritando para o Temer ficar", opina. Ele argumenta que houve uma ascensão das mobilizações a favor dos direitos e, de forma mais tímida, pela realização de eleições diretas. "Mas concordo que há também uma descrença cada vez maior pelas soluções institucionais. Tem a ver com abismo criado entre Congresso e Governo, de um lado, e o povo do outro", diz Boulos, para quem o primeiro legisla de costas para a população e o segundo age como se não tivesse nada a perder. "Isso gera um sentimento de que não adianta fazer manifestações de maneira institucionalizada. As pessoas esperam cada vez menos que suas demandas tenham eco. Essa frustração pode gerar desmobilização em alguns setores, mas também radicalização", explica. Há outra greve marcada para o próximo dia 30, mas ainda não há clareza de que trará a movimentação esperada.
A rejeição ao Governo Temer (apenas 7% de popularidade, segundo o último Datafolha), a oposição à reforma da previdência (71% de rejeição, segundo o mesmo o instituto) e o respaldo a eleições diretas (83% de apoio, diz o Datafolha) são pontos comuns entre os dois lados da atual polarização política. Entretanto, ainda não foram capazes de se unir nas ruas. Esther Solano, especialista da Unifesp, explica que há duas bolhas claras no Facebook que não se comunicam. “Antes havia certo emaranhado de páginas de movimentos, figuras e partidos. A partir de 2014 formam-se basicamente duas bolhas, algo visualmente muito escancarado. São duas bolhas incomunicáveis. Aqueles que estavam em relativo contato nas redes e nas ruas em 2013 não têm mais contato. Ninguém se fala, não há pontes”, disse ela durante um evento sobre as jornadas de junho de 2013, realizado no dia 13 na Tapera Taperá.
Alonso, do Cebrap, explica que "uma coisa é exprimir opiniões" em pesquisas e outra "é deixar a rotina o trabalho e fazer uma ação contrária". Ela considera muito difícil, no atual contexto, que haja um novo Junho de 2013 unindo diversas agendas, a não ser que "esse processo se revele um poço sem fundo, gerando um esgotamento", diz. "Existia uma grande diversidade de pautas em 2013. Parte focalizou no impeachment e outra parte focalizou no 'não vai ter golpe'. Mas depois disso houve uma pulverização das agendas de novo. Acho difícil todos unidos gritando pelo 'Fora Temer'".
Reportagem de Felipe Betim
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/15/politica/1497541272_710007.html
foto:https://twitter.com/deltanmd/status/580368383302074368

Projeto que avança na Câmara classifica manifestações sociais como atos de terrorismo


Um projeto de lei que tramita em silêncio pelas comissões da Câmara dos Deputados pode servir de munição à repressão e criminalização dos protestos sociais presentes nas ruas do Brasil desde junho de 2013. De autoria do deputado delegado Edson Moreira (PR-MG), a PL 5.065/2016 prevê alterar alguns pontos da já controversa lei que tipifica o crime de terrorismo. Dentre as mudanças, o texto classifica como atos de terrorismo a “prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo por motivação ideológica, política, social e criminal”. Dentre os "atos previstos", estão o de usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos e venenos. Também inclui bloquear rodovias, ferrovias e estradas.
Porém, a parte mais problemática, segundo organizações pelos direitos humanos, não é o que se acrescenta na lei, mas o que se revoga dela. Há um parágrafo, na legislação vigente, que serve como uma espécie de salvaguarda aos manifestantes. Diz a lei hoje que os atos de terrorismo não se aplicam “à conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por propósitos sociais ou reivindicatório, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades constitucionais". O texto em discussão prevê acabar com esse artigo.
No texto, o autor, delegado Edson Moreira, justifica que o artigo hoje presente na lei é "um verdadeiro salvo-conduto para que grupos pratiquem atos de terrorismo com salvaguarda legal". A discussão desta cláusula é antiga. Ela havia sido excluída quando o texto fora votado no Senado, em outubro de 2015, mas a Câmara acabou incluindo de volta. Moreira diz, ainda no texto, que a revogação se faz necessária para que "a autorização legal ao terror do bem, terrorismo virtuoso ou terror includente" seja eliminada.
Mas ao EL PAÍS, Edson Moreira afirmou que não foi ele quem colocou esse item no texto. "Nosso negócio é pegar as organizações criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV)", diz. "Movimento social faz bem para a democracia, desde que seja ordeiro". Moreira afirmou que "deve ter sido o relator" quem colocou no texto a proposta de acabar com a salvaguarda às manifestações.
Procurado, o relator, deputado Hugo Leonardo (PSB-RJ), não falou com a reportagem. Mas sua assessoria de imprensa afirmou que houve um "equívoco" em relação ao parágrafo em questão, e que o texto seria revisto.
Do jeito que está, o texto já havia sido aprovado, em dezembro do ano passado, na Comissão de Relações Exteriores e e de Defesa Nacional. Agora, precisa passar pela Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, composta, majoritariamente por parlamentares da chamada bancada da bala. Na sequência, a próxima a dar seu parecer será a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC). Se a CCJC não barrar, o texto segue para votação no plenário.
Segundo o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), membro da Comissão de Segurança Pública, o texto proposto piora a atual legislação. "A lei antiterror é ruim, mas ainda tem a salvaguarda", diz. "Com as alterações, vai haver uma ampliação da regra penal, que valerá para qualquer um. Por isso a modificação é muito ruim".

Interesse internacional

Sob pressão internacional, a Câmara aprovou, em fevereiro do ano passado, a lei que tipifica os crimes de terrorismo. Na época, a proposição tinha o apoio oficial do G20 (o grupo das 20 maiores economias do mundo), e, extraoficialmente, do Comitê Olímpico Internacional, que queria a ampliação de uma segurança legal para eventuais delitos ocorridos durante a realização dos Jogos Olímpicos neste ano no Rio de Janeiro. Desde então, deputados passaram a defender que alguns pontos que foram vetados voltassem ao texto, e outros que estavam incluídos fossem revogados, como é o caso do parágrafo que trata da salvaguarda aos manifestantes.
A nova lei foi utilizada pela primeira vez às vésperas da Olimpíada, quando dez suspeitos de terrorismo foram detidos. Chamada de operação Hashtag, a ação levou à primeira condenação por terrorismo no Brasil: oito foram condenados, mas o caso até hoje levanta controversas.
O terrorismo tem sido tema de debate em diversas partes do mundo. Na semana passada, o parlamento francês apresentou um projeto de lei antiterrorismo para substituir os poderes emergenciais temporários em vigor desde que militantes islâmicos atacaram Paris em 2015. Lá, a proposta também foi rechaçada pelas entidades de direitos humanos, que afirmam que a nova lei cerceará as liberdades. "A França precisa encontrar uma maneira de encerrar o estado de emergência sem normalizar práticas abusivas”, diz a ONG Human Rights Watch.
Reportagem de Marina Rossi
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/27/politica/1498596183_811422.html
foto:http://www.tribunadojurua.com.br/cruzeiro-do-sul/a-reforma-e-a-necessidade-da-reinvencao-politica/

Quais são as medidas estritas de segurança que os EUA passarão a exigir de todos os voos com destino ao país

Passageiros em 280 aeroportos de 105 países enfrentarão medidas mais estritas de segurança em 280 aeroportos dos 105 países com voos diretos para os Estados Unidos.
É que o governo americano acabou de anunciar que nas próximas "semanas e meses" haverá um reforço dos controles de segurança diante da ameaça de "um inimigo flexível e ágil": o terrorismo.
O principal objetivo é impedir que extremistas transportem explosivos em dispositivos eletrônicos, segundo informou na quarta-feira o Departamento de Segurança Nacional (DHS, na sigla em inglês) do país.
Muitas companhias aéreas temiam a imposição de uma proibição geral para levar equipamentos como laptops ou tablets na bagagem de mão - como ocorre com passageiros que embarcam em oito países do Oriente Médio e da África -, mas esta não houve.

O que muda?

Funcionários do DHS informaram que serão feitas operações de segurança "visíveis e invisíveis" para os passageiros em aeroportos com voos diretos para os EUA.
Os agentes de segurança aplicarão mais controles de segurança para verificar a identidade e a bagagem dos passageiros antes do embarque, segundo as novas regras apresentadas.
Dispositivos eletrônicos pessoais como tablets e computadores portáteis serão submetidos a uma revisão mais rigorosa para detectar possíveis rastros de explosivos.
Também haverá um reforço na tecnologia para detectar ameaças, assim como um uso maior de cães farejadores. Os aviões que viajam aos EUA também serão submetidos a uma maior vigilância nos aeroportos de origem.
O DHS ainda prevê aumentar o número de "pontos de inspeção prévia" como os que atualmente têm em cinco países: Irlanda, Bahamas, Bermudas, Emirados Árabes e Canadá.
São seções especiais nos aeroportos nas quais os agentes de alfândega e proteção fronteiriça realizam as mesmas inspeções de migração, alfândega e agricultura que os aeroportos dos Estados Unidos, mas antes dos passageiros embarcarem.
Apesar de não terem sido revelados mais detalhes das medidas, espera-se que elas resultem em um tempo maior para embarcar no avião.
Essa nova política afeta 280 aeroportos em 105 países, a partir dos quais partem diariamente cerca de 2.100 voos aos EUA.
No Brasil, os aeroportos afetados serão os de São Paulo (Guarulhos), Rio de Janeiro (Galeão), Brasília, Campinas, Belo Horizonte, Manaus, Recife, Salvador, Curitiba e Porto Alegre.
Cerca de 325 mil passageiros devem passar pelas novas medidas todos os dias.

Por que agora?

O DHS disse em comunicado que detectou uma "teia de aranha" de ameaças que tem como objetivo realizar atentados contra aviões com passageiros.
"É necessário colocar em prática melhores medidas de segurança para todos os voos comerciais aos Estados Unidos", disse na quarta o diretor do DHS, John Kelly.
"O DHS desenvolveu essas novas medidas de segurança melhoradas para mitigar efetivamente as ameaças à aviação com o mínimo inconveniente para os passageiros", disse o funcionário.
Desde março, os dispositivos "maiores que um smartphone" não são permitidos nas bagagens de mão de passageiros em voos procedentes de Turquia, Marrocos, Jordânia, Egito, Emirados Árabes, Catar, Arábia Saudita e Kuwait.
A medida foi adotada pelo temor de que fossem colocados explosivos em seu interior que passassem despercebidos nos controles de segurança existentes.
Porém, Kelly disse na quarta-feira que, por enquanto, a proibição não deve ser ampliada a outros países.
No ano passado, as preocupações com segurança aérea ficaram mais acentuadas quando um membro do grupo extremista Al Shabab, da Somália, conseguiu entrar em um avião em Mogadíscio com um laptpop com explosivos. Este explodiu 15 minutos depois de o avião levantar voo, abrindo um buraco na fuselagem e forçando o avião a fazer um pouso de emergência.

Quando as novas regras serão aplicadas?

O DHS disse que as companhias aéreas têm 120 dias para se adaptar às novas solicitações de segurança, caso contrário, poderão ter de proibir que seus passageiros embarquem com eletrônicos maiores que um celular (laptops, tablets, consoles de jogos, livros eletrônicos, aparelhos de DVD, câmeras fotográficas, entre outros).
"Aqueles que não adotarem esses requisitos dentro de certos prazos correm o risco de que sejam impostas restrições adicionais de segurança", diz o DHS.
Funcionários do DHS citados pelo jornal The Washington Post indicaram que as normas devem entrar em vigor ainda neste verão (no hemisfério norte).
Em março, quando a proibição de laptops e afins foi imposta a oito países, as companhias haviam manifestado seu temor de que isso poderia desmotivar muitos passageiros viajando a negócios, que regularmente pagam por assentos mais caros.
Mas funcionários de segurança disseram que essa proibição poderia ser retirada nesses oito países caso sigam as novas regulações anunciadas na quarta-feira.
Kelly disse que são melhorias necessárias. "Não se enganem: nossos inimigos estão trabalhando constantemente para encontrar novos métodos para disfarçar explosivos, recrutar pessoas e sequestrar aviões".
"Temos que colocar em prática novas medidas em todos os âmbitos para manter a segurança de todos os passageiros e dificultar o êxito dos terroristas", disse o diretor do DHS.

fonte:http://www.bbc.com/portuguese/internacional-40443821#orb-banner
foto:http://www.dicasdacalifornia.com.br/2016/02/tempo-de-aviao-ate-los-angeles.html

O curso que tenta ensinar homens a não agredirem mais mulheres

Uma sala de aula onde os alunos são todos - e somente - homens. Brancos, negros, jovens, idosos, de todas as classes sociais, eles formam um grupo heterogêneo e cheio de diferenças, mas carregam consigo uma característica em comum: todos estão ali por terem cometido crimes de violência contra a mulher.
O caso de João* aconteceu no último dia 25 de dezembro, no Natal. Uma discussão com a mulher por uma foto apagada de um celular motivou uma briga que fugiu do controle. Entre xingamentos e insultos, ele a empurrou na cama, deu tapas e quebrou o espelho, até ela gritar por socorro e o filho chamar a polícia.
Aos 27 anos, Pedro* nunca teve um perfil violento, segundo a mulher, mas um dia também a agrediu por ciúme - uma raiva que não conseguiu conter no momento, como ele diz.
Já separados, os dois viviam na mesma casa por causa dos filhos, e quando ela chegou mais tarde do trabalho um dia ele resolveu tirar satisfação. Foi de "vagabunda' para baixo, com outros xingamentos que ele mesmo descreve como "impublicáveis" - mas não parou por aí.
"Com essa mão aqui eu dei três tapas na orelha dela que fizeram sangrar. Dei chute no útero, acho que no joelho também. Agredi, sim, não vou mentir", disse à BBC Brasil. Tudo isso na frente dos filhos de quatro anos e dois anos.
Rubens* partiu para cima da filha. Com 60 anos de idade - e um corpo todo de fisiculturista de vidrado em academia -, ele teve seus desentendimentos com a jovem de 18 anos.
"Eu a repreendia, controlava muito horário dela sair e chegar", conta. Um dia, avançou para a agressão e, quando a mãe, que sofre de câncer e está em tratamento, entrou na frente para defender a menina, acabou apanhando também. As duas o denunciaram.
Esses três homens agora estão sendo processados com base na lei Maria da Penha e viraram colegas de sala no curso "Tempo de Despertar", promovido pelo Ministério Público de São Paulo com o objetivo de reduzir a reincidência de casos de violência contra a mulher.
"É uma forma de prevenir a violência contra a mulher. Percebi que os casos de reincidência de violência doméstica eram muito altos, em torno de 65%. Buscando projetos internacionais de sucesso, consegui achar dois que trabalhavam com o homem, com a desconstrução do machismo, da masculinidade", explicou à reportagem a promotora e criadora do curso, Gabriela Manssur.
"A pessoa mais beneficiada com esse curso é a mulher. Nas três edições (do curso) que fizemos, tivemos somente um homem que voltou a cometer violência. Ou seja, reduzimos a reincidência para praticamente zero. Portanto, se temos 17 homens aqui, vamos ter menos 17 casos de violência contra a mulher no Ministério Público ano que vem", afirmou.
"O que é melhor: não é só o processo, dentro do processo tem uma vida, uma família que sofre, uma vítima que sofre. Então são menos 17 vítimas sofrendo de violência contra a mulher."
O curso é composto por oito aulas que, em geral, são realizadas a cada duas semanas. Aborda temas relacionados a gênero, direitos das mulheres, lei Maria da Penha, masculinidade, sexualidade e DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), álcool e drogas, paternidade e afetividade, entre outros.
Participam da iniciativa homens denunciados por violência doméstica e sob investigação, cumprindo medida protetiva e/ou aguardando julgamento. O comparecimento é obrigatório e pode reduzir eventuais penas em caso de condenação.
A BBC Brasil acompanhou três dias de curso e conversou com organizadores, participantes e mulheres vítimas de violência cometida por eles.

Chegada

Quem entrasse desavisado naquela sala no fórum regional da Penha (zona leste de São Paulo) dificilmente entenderia quem eram aqueles homens e o que faziam ali.
Um grupo que reunia jovens de 20 e poucos anos com óculos Rayban escorados na testa; idosos de cabelos brancos; brancos, ruivos, negros, pardos, barbudos, com dreads no cabelo; homens escolarizados, com diploma universitário; ou que mal haviam terminado o colégio; homens fortes, altos, musculosos; outros franzinos, miúdos.
"Não existe perfil do agressor. É aquele homem, aquele jovem, aquele idoso, que não respeita os direitos das mulheres. São homens que não entendem que as mulheres têm os mesmos direitos que eles, que foram criados no reflexo de uma sociedade machista de forma a entender que a mulher tem que servi-lo, que a mulher tem que ser controlada, que a mulher que sai com roupa curta é vadia, etc", afirma Manssur.
E, logo no primeiro dia de curso, já era possível perceber um sentimento em comum: a revolta por estarem ali "sem terem cometido crime nenhum".
"Eles chegam aqui revoltados. Sem entender por que estão ali. Eles falam: 'Eu não sou criminoso, o que eu estou fazendo aqui?'. Não entendem por que as mulheres estão querendo tantas coisas, por que elas querem se igualar aos homens. Xingam até a Maria da Penha", conta Sergio Barbosa, um dos gestores do curso.
O primeiro trabalho é de conscientização sobre os direitos das mulheres, o feminismo e a masculinidade. Nas aulas, especialistas convidados pelos organizadores falam sobre mudanças da sociedade e conquistas recentes das mulheres, sobre a importância de combater a ideia de que "homem tem que ser duro" ou de que "homem não pode chorar" e tentam chamar a atenção para as razões dos erros dos participantes.
"Cheguei aqui e achava que jamais tinha sido agressivo, que nunca tinha sido agressor. Não entendia o que estava fazendo aqui. comecei a entender e aprender coisas que eu nunca tinha ouvido na vida, que existem vários tipos de agressão, que agressão verbal também é violência. Aí no primeiro encontro já vi que eu estava errado", relatou João.

Reflexões

Além das palestras, os homens são reunidos em grupos de reflexão onde debatem como podem melhorar suas atitudes. Em um deles, em que o assunto era autocontrole, a reportagem acompanhou o momento em que a conversa passou a tratar das "roupas que as mulheres vestem".
"Minha mulher pode vestir o que quiser. Eu só aviso para ela: 'Você quer sair assim? Você sabe como os homens vão olhar'. Mas eu respeito a escolha dela", disse um deles. O outro reclamou do batom escuro e vermelho que a esposa usava - semelhante ao da repórter diante dele. "Não gosto. Acho ridículo", disse com veemência.
Sergio Barbosa, que monitorava o grupo, imediatamente tentava direcionar o pensamento deles de outra forma. "Mas qual é o problema do batom? E ela não pode usar?"
Um dos acusados também chegou a transparecer uma insatisfação por estar respondendo pelo crime. "No meu caso, foi só (violência) verbal, ela não precisava ter colocado na lei Maria da Penha". Ao que Barbosa rebatia: "Mas agressão verbal também é violência. Quando alguém te xinga, te rebaixa, te humilha, você gosta? Como você se sente?"
"Nós damos um panorama sobre o que é esperado da mulher na sociedade, como são colocados os direitos das mulheres na Constituição formalmente e como é isso na prática, mostrando o quanto a mulher sofre pra ter os mesmos direitos que os homens", explicou a promotora.
"Eu sempre pergunto: onde é o lugar da mulher? Eles respondem: onde ela quiser. A mulher pode trabalhar? Pode. Pode ser promotora? Pode. E eu sei que tem casos aqui que a mulher apanhou porque foi trabalhar ou foi estudar."
Além de propor a reflexão sobre a questão de gênero, o curso também traz profissionais da Justiça, para tirar dúvidas dos acusados sobre as implicações da lei Maria da Penha, e profissionais da saúde para orientá-los sobre o vício em álcool e drogas - muitos sofrem desse problema - e sobre DSTs.

Mudanças

No penúltimo encontro do curso, era possível perceber outra semelhança entre todos os homens que estavam ali. Se na primeira participação eles se sentiam revoltados, sem entender o motivo de estarem ali, neste a sensação era de aprendizado.
"A principal mudança deles foi falar mais de si mesmo como responsável pelo fato que aconteceu, e não ficar mais delegando a culpa à companheira. Eles perceberam que o comportamento machista os levou a essa situação", observou Sergio Barbosa.
Rubens ainda se vê com dificuldades de aceitar essas "novas regras" da sociedade que aprendeu no curso. Mas reconhece seu erro.
"Eu tenho 60 anos, é muito difícil mudar (o pensamento). Talvez eu tenha que manter minha máscara e fingir que está tudo bem. É difícil esquecer meus valores, tudo que aprendi. Mas tenho certeza que mudei", disse na reflexão com os companheiros de grupo.
"Eles mostraram para mim que de graça não foi, algo eu fiz. E a partir desse dia comecei a refletir que eu não era tao bom quanto achava que fosse. Se você fica preso aos paradigmas antigos, você se torna um opressor. Um dia a gente (ele e a filha) vai se aproximar, e eu penso que serei uma pessoa mais compreensiva, melhor. Ficar preso a esses paradigmas não leva a nada."
A esposa de João tem sentido na prática as mudanças. Os dois ficaram separados por quatro meses após a agressão dele, mas se reaproximaram e acabaram reatando o relacionamento. "Ele mudou bastante. Na hora que vai ficar nervoso, ele pensa em outra coisa e acalma. Mudou a maneira de pensar. Está mais controlado, não é tão ciumento", contou ela à BBC Brasil.
Já no caso de Pedro, o casal prefere se manter separado. Mas a relação dos dois é outra a partir de agora. "Mudou completamente. Até mesmo a relação com a minha família, ele não falava com a minha mãe, hoje ele vai lá, fala com a minha família. Realmente houve uma modificação, não sei se é duradoura", pontuou a esposa.
"A gente vê até pela forma de se comunicar. Ele senta, conversa, não tem aquela ignorância de se sentir superior, agora é de igual pra igual."
Pedro não esconde a vergonha pelo que fez e diz que "não se perdoa". Mas agora se compromete a transmitir aos filhos tudo o que tem aprendido com a situação.
"Se eu tivesse a cabeça que tenho hoje na época, eu não teria feito isso. O que eu fiz foi um acidente, eu nunca mais vou fazer e é algo que eu me envergonho, me arrependo, nao consigo me perdoar. Converso muito com meu filho, explico que ele não pode bater em mulher, que não pode bater na irmã dele, tento consertar a c***** que fiz", disse.
"Acredito que tinha que ter um pouco disso em todas as escolas do Brasil pra essas crianças e adolescentes. Isso iria eliminar muito o tipo de homem que vira agressor, porque ele iria entender a importância da mulher na sociedade."
* Os nomes são fictícios - os personagens conversaram com a reportagem sob a condição de não serem identificados.

Reportagem de Renata Mendonça
fonte:http://www.bbc.com/portuguese/brasil-40389536#orb-banner
foto:http://abril7.blogspot.com.br/2014/11/violencia-contra-la-mujer.html

29/06/2017

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UE permite pacientes culpar vacina de provocar doenças mesmo sem provas


O Tribunal de Justiça da União Europeia determinou que é possível culpar uma vacina de provocar uma doença, ainda que não seja demonstrada cientificamente a relação de causalidade. A polêmica sentença ocorre por demanda dos familiares de J. W., um homem que foi vacinado na França contra a hepatite B em 1998 e 1999. Pouco tempo depois, desenvolveu esclerose múltipla. Morreu em 2011. Ele, sua esposa e suas duas filhas denunciaram em 2006 a gigante farmacêutica Sanofi Pasteur, fabricante da vacina, alegando que um suposto defeito no produto teria provocado a doença.
Agora, o tribunal europeu sentencia que “na falta de um consenso científico, o defeito de uma vacina e a relação de causalidade entre este e uma doença podem ser provados mediante um leque de indícios sólidos, concretos e concordantes”, segundo destacou a instituição em um comunicado.
A sentença derruba os argumentos do Tribunal de Apelação de Paris, que assumiu o caso na França. Os juízes franceses afirmaram que não havia um consenso científico que respaldasse a existência de uma relação de causalidade entre a vacina contra a hepatite B e esclerose múltipla. As autoridades de saúde nacionais e internacionais rejeitaram a associação entre a probabilidade de sofrer uma doença desmielinizante, característica da esclerose múltipla, e a vacina contra a hepatite B, segundo reconhece a sentença europeia. O tribunal francês ressaltou, além disso, que não se conhece as causas da esclerose múltipla e que cerca de 95% das pessoas que padecem da doença não têm antecedentes familiares, como no caso de J. W.
“A proximidade de tempo entre a administração de uma vacina e o surgimento de uma doença, a inexistência de antecedentes médicos pessoais e familiares de uma pessoa vacinada e a existência de um número significativo de casos registrados de aparição de tal doença em seguida à administração de referida vacina podem constituir, em seu caso, indícios suficientes para constituir tal prova”, determinou o Tribunal de Justiça da União Europeia.
O presidente da Associação Espanhola de Vacinologia, Amós José García Rojas, se declarou “um pouco assustado” pela sentença. “Se dermos uma vacina anti-gripe a um idoso que sofre de uma doença do coração e, no dia seguinte, ele morrer de um enfarte, é uma casualidade e não uma causalidade”, afirma. “Estabelecer uma relação de causalidade requer rigor científico. Ao tornar a evidência científica em algo discutível, corremos o risco de atuar com crenças, não com ciência”, alerta.
Em um comunicado enviado à rede CNN a multinacional farmacêutica Sanofi Pasteur reitera a segurança de suas vacinas. “Nossas vacinas são seguras, efetivas e protegem contra doenças infecciosas. Nossas vacinas contra a hepatite B são seguras e bem toleradas. Foram aprovadas pelas autoridades de saúde e vendidas durante mais de 30 anos”, declarou.
Reportagem de Manuel Ansede
fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/22/ciencia/1498142021_999250.html
foto:http://www.logica.srv.br/nova-vacina-mengococica-conjugada-quadrivalente-esta-disponivel/