Em quatro anos, a Polícia Federal
deflagrou 2.056 operações contra organizações criminosas que provocaram
prejuízos estimados em R$ 123 bilhões ao País. Os números revelam que o maior rombo
não é o apurado pela Lava Jato, mas o causado pelas fraudes nos fundos de
pensão investigadas na Operação Greenfield, que alcançam R$ 53,8 bilhões ou quatro vezes o valor de R$ 13,8 bilhões desviados pelo esquema que agiu na Petrobrás.
Esse quadro é o resultado da conta feita pelos investigadores
federais com base em valores de contratos fraudulentos, impostos sonegados,
crimes financeiros e cibernéticos, verbas públicas desviadas e até mesmo danos
ambientais causados por empresas, madeireiras e garimpos. Tudo misturado ao
pagamento de propina a agentes públicos e políticos.
Os dados são
da Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Dicor), da PF, e
foram obtidos pelo Estado por meio da Lei de Acesso à Informação
(LAI).
Segundo especialistas em máfias e grupos
criminosos, a análise dos números mostra a mudança do perfil do trabalho da PF,
priorizando a investigação patrimonial das organizações. “Há uma tendência das
investigações em se preocupar mais com os aspectos patrimoniais do que
acontecia há 5 anos, quando se pensava só em autoria e materialidade”, afirmou
o procurador da República Andrey Borges de Mendonça.
De fato, nos últimos três anos, esse
montante cresceu ano a ano, partindo de R$ 6,8 bilhões em 2014 até atingir R$ 80 bilhões em 2016, um aumento de 1.068%. Os valores
sequestrados ou recuperados com as operações também aumentaram ano a ano. Em
2013, a Dicor listou R$ 6 milhões. Já no seguinte – início da
Lava Jato – esse número subiu para R$ 2,6 bilhões e, em 2016, atingiu R$ 12,4 bilhões.
“Isso também mostra as prioridades adotadas pela Polícia Federal”,
disse o juiz aposentado e ex-secretário nacional antidrogas Wálter Maierovitch,
que participou como perito convidado da Convenção de Palermo. Organizada pelas
Nações Unidas em 2000, a convenção, da qual o Brasil é signatário, definiu as
regras de combate ao crime organizado.
Escalada semelhante de valores pode
ainda ser observada naquilo que os agentes federais chamam de “prejuízos
evitados”, quando a operação interrompe a prática de crimes, antes que eles se
consumem. Nesse caso, os valores subiram de R$ 2,8 bilhões em 2014 para chegar a R$ 59,1 bilhões em 2016 – e já teriam atingido R$ 12,4 bilhões no primeiro trimestre deste ano. “O objetivo é
asfixiar essas organizações, pois não adianta nada investigar autoria e
materialidade se não se consegue recuperar o patrimônio”, disse Mendonça.
Além do enfoque na descoberta e no sequestro dos bens das
organizações criminosas, os números também mostrariam o efeito da disseminação
do estilo de investigação adotado pela Lava Jato, em Curitiba, com a criação de
forças-tarefa envolvendo diversos órgãos.
“O que a força-tarefa de Curitiba trouxe é essa forma nova de
investigar”, disse Mendonça, que participa da forças-tarefa da Lava Jato e hoje
atua nas Operações Greenfield e Custo Brasil, que investiga fraudes e corrupção
no Ministério do Planejamento no governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio
Lamachia, a PF tem de cumprir seu papel e sua missão em todos os aspectos e
espectros onde tem criminalidade dentro de sua competência. “É isso o que a
sociedade espera da corporação.”
E são muito os afetados. Quase 2 milhão de beneficiários de fundos
de pensão investigados na Greenfield tiveram de arcar com parte dos prejuízos
gerados. “A gente se sente impotente diante de tudo o que aconteceu e é preciso
botar a boca no trombone para não ocorrer outra vez”, disse Suzy Cristiny
Costa, da Fentect, federação do servidores dos Correios.
Ranking. Entre os dez maiores prejuízos investigados pela
PF, além dos apurados pela Greenfield e Lava Jato, estão os causados pelas
organizações criminosas que são alvo das Operações Acrônimo, que apura o desvio
de verbas e financiamento ilícito de campanhas eleitorais, e Zelotes, que
averigua crimes tributários e corrupção no Conselho de Administração de
Recursos Fiscais (Carf), órgão do Ministério da Fazenda.
Há ainda os casos envolvendo as
Operações Enredados – R$ 5,1 bilhões de prejuízo – em que os agentes federais
apuraram crimes ambientais e pagamento de propinas no extinto Ministério da
Pesca, e esquemas de fraudes tributárias, contrabando e evasão de divisas
apurados nas Operações Celeno, Valeta e Huno. A lista é completada pela Janus,
que verifica supostas fraudes no financiamento do BNDES para obras da Odebrecht
em Angola.
Reportagem de Alexa
Salomão, Daniel Bramatti e Marcelo Godoy
foto:http://alexandretavora.blogspot.com.br/2012/02/chega-de-corrupcao.html
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