31/12/2015

Que 2016 seja melhor do que todas as previsões!!!


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Aumentar custos processuais só vai afastar o cidadão do Judiciário

Artigo de Marcos da Costa, presidente da OAB/SP


Como é comum em todas as manhãs, em 7 de abril passado, me preparei para cumprir os compromissos diários. No entanto, naquele dia a agenda trazia um tema que a diretoria da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil da Seção de São Paulo) considerava merecer atenção especial: o possível encarecimento da Justiça para o cidadão.
É que a reunião do Colégio de Líderes da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo debateria o projeto de lei 112/2013, proposto pelo Tribunal de Justiça do Estado. O documento propunha dobrar o custo da taxa de serviço cobrada pelo Judiciário na fase de apelação ou recurso adesivo, dos atuais 2% sobre o valor da causa para 4%. A sugestão também valeria para os processos de competência originária do tribunal, de preparo dos embargos infringentes.
Na ocasião, boa parte dos presentes pareceu concordar com os argumentos que apresentei. Mas, me surpreendi ao constatar, poucos meses depois da conferência, que muitos deputados não respeitaram o compromisso firmado comigo naquele dia.
É pena que por motivo de uma fatalidade, o grave acidente que sofri em 18 de abril, o qual levou meu colega e tesoureiro de Ordem Carlos Roberto Fornes Mateucci, eu não tenha conseguido acompanhar mais de perto a cruzada contra esse projeto.
Fui surpreendido por sua aprovação pelo governo do Estado de São Paulo e o aumento vai ocorrer no âmbito da lei estadual nº 15.855/2015, prevista para vigorar a partir de 1° de janeiro de 2016.
Diante disso, a Ordem paulista acaba de ajuizar uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) para que seja suprimido o inciso II do artigo 4º dessa lei, que majora a taxa.
Reapresento aqui o que expus naquela reunião de abril. Não se pode admitir que, para superar dificuldades orçamentárias, se elevem os custos do acesso à Justiça, criando obstáculos para o próprio exercício da garantia constitucional do duplo grau de jurisdição. Os valores atuais já oneram o contribuinte. Elevar a taxa tornaria o acesso inviável.
Acredito que a questão orçamentária do Poder Judiciário deva ser tratada no palco adequado: na discussão do orçamento geral do Estado. Ora, se a parcela que compete ao Poder Judiciário é constante objeto de cortes nas propostas que anualmente o Tribunal de Justiça encaminha ao Poder Executivo, em descumprimento da autonomia assegurada pelo artigo 99 da Constituição, será o cidadão o responsável por complementar o caixa?
Nessa linha, também vale lembrar que o Estado de São Paulo ainda não cumpriu o §2º do artigo 98 da Constituição, que determina que os recursos resultantes das custas e emolumentos sejam destinados exclusivamente à Justiça. O recolhimento é feito pela caixa geral do Estado e só uma parcela do total é atualmente revertida para o Judiciário. Se cumprida essa obrigação, certamente haveria recursos necessários para que o Tribunal adequasse sua operação.
Elevar o custo para o jurisdicionado é um movimento antigo. Em 2003, as custas processuais sofreram aumento significativo, inclusive com o início de cobrança sobre atos que até então eram isentos.
Em episódio mais recente, ao final de 2014, as diligências dos oficiais de Justiça tiveram alta que chegaram a 340% no interior paulista –ajuste contra o qual a OAB SP recorreu ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
O sacrifício imposto há mais de uma década ao cidadão paulista não foi revertido em melhoria do sistema. Os mais recentes, tampouco trarão esse efeito. Acredito que o movimento atual da alta das custas processuais vai servir apenas para afastar o cidadão do Poder Judiciário.

fonte:http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2015/12/29/aumentar-custos-processuais-so-vai-afastar-o-cidadao-do-judiciario.htm
foto:https://jfhipermidia.wordpress.com/cotidiano/justica-com-as-proprias-maos/

Promessa ignorada

Artigo de Julita Lemgruber, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania - Cesec/Ucam e ex-diretora do Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro.



Em dezembro de 2014, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, mobilizou todos os secretários e diretores do ministério e convidou um grupo de especialistas para começar a, em conjunto, discutir a viabilidade de um pacto nacional de redução de homicídios.
Dilma Rousseff acabara de ser reeleita. Tudo indicava que havia favorável clima político para se enfrentar a urgência de o governo federal liderar a reversão da vergonhosa taxa de homicídios do país.
Afinal de contas, os 12 anos de governo do PT contribuíram para reduzir de forma significativa os níveis de desigualdade. Milhões de brasileiros ultrapassaram a linha da pobreza extrema. Poder-se-ia até questionar a falta de investimentos em educação básica ou na saúde, mas algumas conquistas eram inegáveis.
O Brasil, porém, continuava a ser o campeão mundial de homicídios, com 56 mil mortes anuais, e o governo federal precisava propor medidas emergenciais para provocar governadores e prefeitos a rever políticas de repressão e prevenção da criminalidade violenta no país.
Para começar, seria preciso propor um pacto nacional de redução de homicídios em torno do qual houvesse um compromisso claro e inequívoco de diferentes instâncias e poderes. Para tanto, precisaria ser uma prioridade política da União.
Pois bem, ao longo do primeiro semestre deste ano, esse grupo de especialistas convidados pelo ministro da Justiça trabalhou junto com profissionais do governo federal no desenho de um projeto ambicioso e, mais do que isso, emergencial. Energias foram mobilizadas e diálogos iniciados.
Em junho de 2015, no encontro anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no Rio, Cardozo apresentou, para frustração dos profissionais que estiveram envolvidos no projeto, linhas muito gerais da proposta, sem na verdade explicar para o público ou para a mídia o que, de fato, seria o tal pacto nacional de redução de homicídios.
A surpresa foi geral. A mídia pouco ou nada entendeu.
Hoje, olhando para trás, podemos, nós especialistas envolvidos no trabalho, admitir que o governo federal percebeu em algum momento a necessidade de tomar em suas mãos a responsabilidade de liderar o processo em torno de tão urgente pauta. Infelizmente, um ano depois da reunião de dezembro de 2014, e quase 60 mil mortes a mais, praticamente nada aconteceu.
Para além de atividades técnicas pontuais, o governo patina e deixa dúvidas: será que a crise política inviabilizou mesmo o plano ou será que o governo federal jamais teve, de fato, coragem para assumir e cobrar dos governadores compromissos efetivos para modernizar a segurança pública e reduzir a violência?
Ao deixar de agir, o governo Dilma desconsidera que, segundo pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública ao Datafolha, mais de 80% da população residente nas grandes cidades brasileiras é favorável à iniciativa.
Enfim, o governo Dilma precisa definitivamente admitir que, mesmo reconhecendo o momento de fragilidade vivido, reduzir a violência não é tema menor.
De que adianta só reduzir desigualdades ou investir em educação se a população é refém da falta de confiança nas polícias, do medo e da insegurança?



fonte:http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/12/1722304-promessa-ignorada.shtml
foto:http://www.ivancabral.com/2013/04/charge-do-dia-inseguranca_29.html

Pesquisa mede 'analfabetismo financeiro' no mundo; veja as questões do teste

Dois em cada três adultos podem ser considerados analfabetos financeiros, segundo a maior pesquisa mundial sobre esse tipo de conhecimentos realizada recentemente.
Os dados foram levantados pelo instituto de pesquisas Gallup, que entrevistou 150 mil pessoas de 148 países em 2014.
Os resultados foram divulgados no início do mês e foram analisados por especialistas do Grupo de Desenvolvimento do Banco Mundial e do Centro Global para a Excelência do Alfabetismo Financeiro da Universidade George Washington, dos Estados Unidos.
A pesquisa colocou à prova os conhecimentos dos adultos sobre quatro conceitos que seus organizadores consideravam básicos: diversificação de risco, inflação, aritmética e juros compostos.

As questões


  • Diversificação de riscos:
Suponhamos que você tenha uma quantidade de dinheiro. É mais seguro colocá-lo em um negócio, em um investimento ou em múltiplos negócios e investimentos?
Resposta certa: o melhor é diversificar em múltiplos investimentos
  • Inflação:
Suponhamos que nos próximos 10 anos os preços das coisas que você compra dobrem. Se sua renda também duplicar, você será capaz de comprar menos do que pode adquirir hoje, o mesmo ou mais do que consegue comprar hoje?
Resposta certa: o mesmo
  • Aritmética:
Suponhamos que você precise pedir emprestado R$ 100. O que é mais vantajoso: devolver R$ 105 ou R$ 100 mais 3% de juros?
Resposta certa: R$ 100 mais 3% de juros, que totalizam R$ 103
  • Juros compostos:
Imagine que você vá depositar dinheiro no banco durante dois anos e a instituição se compromete a pagar juros de 15% ao ano. O banco acrescentará em sua conta mais dinheiro no segundo ano em relação ao primeiro ou depositará a mesma quantidade nos dois anos?
Resposta certa: mais dinheiro, porque os juros do segundo ano incidirão sobre a quantia já reajustada com os juros do primeiro ano - é o que se chama de juros compostos.
Suponhamos que você tenha R$ 100 em uma conta poupança e o banco paga 10% ano ano pelo depósito. Quanto dinheiro você terá na conta depois de cinco anos se não fizer saques: mais de R$ 150, exatamente R$ 150 ou menos de R$ 150?
Resposta certa: mais de R$ 150, justamente por causa dos juros compostos, que incidirão primeiro sobre R$ 100; depois R$ 110 e assim por diante.

Escandinávia na frente

Os resultados colocam os países escandinavos no nível mais alto de conhecimentos financeiros. Noruega, Dinamarca e Suécia obtiveram o melhor índice: 71% de respostas corretas.
Em seguida vieram Israel (68%), Canadá (68%), Reino Unido (67%), Holanda (66%) e Alemanha (66%).
Os Estados Unidos ficaram em 14º lugar na lista.
O Brasil ficou ficou em 68º lugar na lista, obtendo 35% de acertos.
Entre os países que integram o G7 (grupo das nações mais industrializadas do mundo), a Itália obteve a taxa mais baixa (47%) e o Canadá, a mais alta (68%).
Em geral as nações com menos conhecimentos financeiros não as mais pobres: Somália, Afeganistão, Albânia e Iêmen.
De maneira geral, a pesquisa revela os escassos conhecimentos financeiros da população mundial.
"Inclusive nas regiões onde há mais residentes com conhecimentos financeiros, porém existe uma quantidade considerável de população analfabeta financeira, cerca de três em cada 10 pessoas em vários países escandinavos", afirmou o instituto Gallup em um comunicado.
A margem de erro da pesquisa oscilou entre 2,7% e 5,2%, com um nível de confiabilidade de 95%.

fonte:http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151127_analfabetismo_financeiro_lk#orb-banner
foto:http://www.dsop.com.br/pessoal/palestras/analfabetismo-financeiro

Como a indústria farmacêutica responde às doenças tropicais negligenciadas?

Nos primeiros anos deste século, apenas quatro em cada cem novos medicamentos produzidos foram dedicados a doenças que atingem principalmente populações em países tropicais de baixa renda.

Em números concretos, só 37 (cerca de 4%) dos 850 novos remédios registrados entre 2000 e 2011 eram indicados para malária, diarreia, tuberculose e o rol das chamadas "doenças tropicais negligenciadas" listadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde).
Os dados, compilados num estudo colaborativo que incluiu pesquisadores de agências privadas e da própria OMS, são de 2013 e foram publicados pela revista científica The Lancet.
Segundo a OMS, a cada ano 1,5 bilhão de pessoas em 149 países sofrem com esse tipo de doenças, que não recebem a devida atenção. A lista inclui alguns males bastante conhecidos (e até em alta) no Brasil, como dengue, chikungunya e chagas.
Por um lado, há a crítica de que, embora afetem muita gente, essas doenças não são prioridade para as pesquisas farmacêuticas, que historicamente preferem se dedicar ao desenvolvimento de remédios que garantam retorno financeiro.
De outro, o mesmo estudo mostra que houve um avanço: entre 1975 a 1999, somente 1,1% dos novos tratamentos eram dedicados aos males tropicais que afligem populações de média e baixa renda.
Além disso, gigantes da indústria farmacêutica consultadas garantem estar investindo no desenvolvimento de soluções para essas doenças.

O fator emergente

Algumas das maiores empresas mundiais do setor dizem estar de olho no mercado de países emergentes, cujas economias se expandiram na última década.
A gigante GlaxoSmithKlein, por exemplo, pesquisa com a brasileira Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) uma versão de vacina para a dengue. Em outra frente, sua vacina contra malária, a Mosquirix, foi recomendada pelo órgão de saúde da União Europeia e aguarda políticas da OMS para o uso em populações carentes.
Segundo seu porta-voz, Aoife Pauley, a empresa também acompanha as epidemias causadas pelos vírus chikungunya e zika e investiga possibilidades de vacinas.
A francesa Sanofi Pasteur lançou neste mês em outro emergente, o México, a primeira vacina contra a dengue, que aguarda liberação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para uso no Brasil.
"É a primeira vez que temos uma vacina que é primeiramente registrada e autorizada em um país em desenvolvimento, o México", diz o diretor do programa para dengue da empresa, Cesar Mascareñas. "Não é novidade apenas por irmos a populações maiores, mas também por desenvolvermos infraestrutura e pesquisa clínica (em países em desenvolvimento)", acrescentou.
Outras companhias, como a suíça Novartis, dizem ter centros dedicados a pesquisa de males tropicais.
A médica brasileira Fabiana Alves, pesquisadora da DNDi – ONG que atua no desenvolvimento de medicamentos para doenças negligenciadas –, reconhece avanços vindos da indústria.
"Não posso negar que atualmente, dentro da nossa área de trabalho, há vários projetos com colaboração de diferentes indústrias farmacêuticas. Principalmente no acesso às bibliotecas de compostos que podem ser usados. Isso já é um grande passo", afirma.
Mas faz uma ressalva: "A indústria farmacêutica funciona na base do lucro, e não do que é o bem para a humanidade", diz.

A questão do acesso (e da qualidade)

Além de criticar a falta de investimento suficiente em soluções para as doenças que atingem populações carentes, especialistas e ativistas chamam atenção para outro obstáculo: a falta de acesso a tratamentos eficazes e de qualidade.
Um dos exemplos é a malária, que, embora não conste da lista da OMS de males negligenciados, é endêmica nos países da África Subsaariana, gigantesca parte do continente localizada ao sul do deserto do Saara e que concentra alguns dos países mais pobres do mundo.
Embora tenha havido, desde a virada do milênio, uma queda de 37% nos casos e de 60% nos óbitos, a OMS estima o surgimento de 214 milhões de novos casos da doença neste ano, dos quais 438 mil resultaram em mortes – cerca de 90% delas na África.
Gabriel Alcoba, conselheiro para doenças tropicais da ONG Médicos Sem Fronteiras, diz ser frustrante tentar fazer medicamentos contra a doença chegarem a todos os atingidos nessas populações.
"Às vezes não há remédios suficientes, em especial quando há um grande surto e precisamos fazer a administração em massa", diz o médico.
Segundo ele, o problema não é só levar medicamentos a esses locais, mas também o tipo de droga oferecida.
Alguns remédios mais antigos não surtem efeito e chegam, segundo o especialista, a atrapalhar o tratamento, pois podem levar à resistência do parasita.
"As indústrias farmacêuticas precisam liquidar os estoques de remédios antigos antes de produzir os novos (…) O fato é que ainda encontramos formulações antigas, que não são muito eficazes, ainda sendo produzidas."
A Médico Sem Fronteiras é uma das organizações que advoga pelo acesso das populações carentes a aos chamados medicamentos ACTs (terapia combinada de artemisinina, na sigla em inglês) de última geração, que são considerados os mais eficientes no combate ao parasita.
Alcoba reconhece, porém, que não é algo fácil de ser alcançado. "É uma questão de preço - os ACTs são caros. Quando falamos de acesso, preço é obviamente um das grandes barreiras."
A empresa suíça Novartis afirma ter entregue, sem obter lucro, mais de 300 milhões de tratamentos com ACTs para o combate à malária.

Reportagem de Marina Wentzel
fonte:http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151217_remedios_pobres_mw_ab#orb-banner
foto:http://www.saocarlosemrede.com.br/saude/oms-pede-investimentos-no-combate-a-doencas-tropicais-negligenciadas

30/12/2015

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Sob o lema Pátria Educadora, educação teve cortes e greves em 2015


No primeiro dia de 2015, a presidenta Dilma Rousseff, recém empossada, definiu o novo lema de governo: Brasil, Pátria Educadora. O ano foi conturbado política e economicamente e a educação não escapou do contexto. A pasta termina sob o comando do quarto ministro e com quase R$ 11 bilhões a menos no Orçamento do que o autorizado para o ano. Foram greves de professores, desde o ensino básico ao ensino superior. Foi também um ano em que o Plano Nacional de Educação (PNE), a lei que estipula metas para melhorar a educação até 2024, deu os primeiros passos.
"Esse foi, talvez dos últimos 15 anos, o ano em que as dificuldades na economia mais atrapalharam a educação", avalia o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara. "Para a educação foi um ano muito ruim, não por questões intrínsecas à área de educação, mas porque política e economia travaram a pauta".
 
Ainda que proporcionalmente a pasta tenha sido mais preservada que outras da Esplanada dos Ministérios, a Educação teve um dos maiores cortes nominais: foram R$ 10,6 bilhões no ano, o que reduziu o Orçamento autorizado para 2015 de cerca de R$ 109 bilhões para aproximadamente R$ 98 bilhões. De acordo com a Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados, o MEC empenhou, ou seja, reservou para pagamento futuro, quase todo o recurso disponível, R$ 96,2 bilhões. Desses R$ 77,7 bilhões já foram de fato pagos.
 
As consequências foram atrasos nos pagamentos de programas como o Mais Educação, que incentiva o ensino integral nas escolas, e mesmo cortes como no Ciência sem Fronteiras. "Muitos programas federais foram interrompidos. Os municípios foram conduzindo até onde foram capazes de arcar com as despesas. Mas alguns não tiveram condições e foram parando como, por exemplo, o Mais Educação. Os alunos foram prejudicados por não terem continuidade nas atividades", diz o presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Alessio Costa Lima.
 
O ano começou com reformas e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) sofreu várias limitações. O financiamento que era concedido a juros baixos, sem limite de atendimentos, passou a exigir nota mínima no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e contrapartida das instituições de ensino. Instituições e alunos, que contavam com o Fies, foram pegos de surpresa. Apenas no meio do ano, após uma longa negociação entre instituições e MEC, foi construído conjuntamente um novo modelo de financiamento, que foi aprimorada no final do ano.
 

Greves e ocupações

O cobertor curto dos recursos atrasou reajustes salariais dos professores e contribuiu para o achatamento da carreira docente. A situação gerou greves na educação básica em vários estados e municípios. No ensino superior, os professores e trabalhadores técnico-administrativos das universidades também viram o trabalho prejudicado pela falta de verba. Atravessaram uma das greves mais longas das categorias. Foram mais de 4 meses parados. O ano foi de manifestações, algumas delas acabaram em conflito, como no Paraná, onde pelo menos 170 manifestantes, a maioria professores, foram feridos pela Polícia Militar, em Curitiba, em abril.
 
No segundo semestre, o Governo de São Paulo anunciou o fechamento de 94 escolas estaduais. Em protesto, os estudantes ocuparam diversos centros de ensino. O movimento, que começou com os próprios estudantes, ganhou força e acabou envolvendo comunidade local, artistas e intelectuais, além de movimentos sociais. As ocupações em São Paulo conseguiram adiar a reforma do estado com a promessa de diálogo. Estudantes de Goiás se inspiraram no movimento paulista e também ocuparam escolas em protesto contra o novo modelo de gestão anunciado pelo estado.
 
"Tenho certeza que existe uma nova geração de estudantes, tanto nas escolas quanto nas universidades, que entende que estudante é um sujeito de direito", diz a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral. "A principal lição das ocupações em São Paulo é que a pauta educação é muito poderosa".
 

Plano Nacional de Educação

Em 2015, o Plano Nacional de Educação (PNE) completou um ano e, junto com a data, veio o fim dos primeiros prazos. O PNE estabelece metas para melhorar a educação até 2024. São metas que vão desde a inclusão de crianças na educação infantil à ampliação da pós-graduação. Espera-se também uma melhor formação dos professores e maior investimento nos salários e na educação como um todo até alcançar, pelo menos, um investimento anual equivalente a 10% do Produto Interno Bruto (PIB).
"Não estamos conseguindo avançar. Os cortes na educação vão prejudicar o cumprimento do PNE. Temos uma equação que envolve recursos e gestão, com problemas em metade dessa equação, a exigência será de uma forma mais corajosa de enfrentar as questões", avalia a presidente executiva do movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz. "Não vamos ter uma abundância de recursos como tivemos no passado, ao contrário, vai ter que ter uma abundância de gestão e mais coragem. Sem algumas mudanças dificilmente vai se conseguir avançar, é preciso vontade política acima de tudo", acrescenta.
 
Logo no começo do ano, o PNE levou uma rasteira, na avaliação de entidades ligadas à educação. O então ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Mangabeira Unger, divulgou o documento Pátria Educadora: A qualificação do ensino básico, que traçava ações para o período. Com a saída do ministro, o documento não foi levado adiante. O MEC nunca o reconheceu, afirmando que seguia o PNE. 
 

Um ano, quatro dirigentes

Na Esplanada, o ano de 2015 foi marcado por constantes trocas no comando do ministério. A pasta que carregava o lema do governo não ficou de fora. Foram quatro nomes à frente do MEC: Cid Gomes, o secretário executivo Luiz Cláudio Costa, que assumiu interinamente, Renato Janine Ribeiro e, finalmente, a pasta termina o ano com Aloizio Mercadante, até então ministro da Casa Civil, de volta ao posto que ocupou até 2014.
 
"O ano de 2016 deve ser um ano de um grande pacto social. O MEC tem que assumir a crise e construir um trabalho em conjunto com a sociedade. A pasta tem que ter a capacidade de colocar o PNE como sendo o norte e convocar a sociedade para o cumprimento da lei", diz Daniel Cara, que acrescenta: "É preciso rever as prioridades, não se pode mais tirar dinheiro da educação".


Reportagem de Mariana Tokarnia
fonte:http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/12/30/sob-o-lema-patria-educadora-educacao-teve-cortes-e-greves-em-2015.htm
foto:http://evivaafarofa.blogspot.com.br/2015/06/marcha-re-para-2022.html

Larva em feijão e até ação contra deficientes: veja notícias falsas de 2015

Mentiras, ações de marketing, mal-entendidos e brincadeiras são as origens mais comuns dos hoaxes (embuste, engano, boato) da internet.  Quem passa algum tempo online não demora a encontrar esses rumores. Não foi a revolução digital quem produziu esse fenômeno, mas ela certamente potencializou seus efeitos e seu alcance. Algumas informações falsas chegam a beirar a histeria coletiva. A cada ano, a rede se supera nesse quesito.
Separamos dez dos mais marcantes hoaxes da internet de 2015. O ano não acabou e muitos ficaram de fora. Uma lista é sempre uma redução.

1. Phuc Dat Bich

Essa é a história do australiano banido do Facebook graças ao seu nome vietnamita, cuja pronúncia seria "Phoo Da Bi", mas que em inglês soava como uma expressão sexual de baixo calão. O caso ganhou notoriedade na internet e chegou a ser noticiado por BBC.com, Sydney Morning Herald, SBS e Herald Sun, além de grandes portais de notícias no Brasil. Depois de enganar muita gente em todo o mundo, ele reconheceu que tudo não passava de uma brincadeira entre amigos que se transformou em uma pegadinha para grandes veículos de comunicação. Quase toda a mídia acreditou na história.

2. Larvas no feijão

Alimentos sempre são alvos de boatos, mesmo antes de a internet se popularizar. No segundo semestre deste ano, o feijão superou os hambúrgueres do McDonalds nos alarmes falsos. Muitas pessoas passaram a divulgar, principalmente pelo WhatsApp, que os feijões estavam contaminados por larvas e que supostamente teriam provocado a morte de dez pessoas, incluindo médicos, em um hospital de São Paulo. Grandes corporações no mercado alimentício estavam calando a mídia convencional sobre o problema de saúde pública. O escândalo envolveria diversas empresas e a única maneira de "salvar a vida" de amigos e familiares era avisá-los de que o feijão deveria ser deixado de molho em vinagre, cloro ou água oxigenada. Os céticos poderiam "ver com os próprios olhos": bastava abrir alguns feijões e testemunhar a larva escondida. As larvas, no entanto, eram apenas radículas de feijão, estrutura que da origem às raízes. Quem prestou atenção na feira de ciências da escola sabia.

3. Charlie, Charlie

O "Charlie, Charlie Challenge" era uma espécie de "brincadeira do copo". O espírito hispânico chamado Charlie, e não Carlos ou Carlitos como se poderia imaginar, empurrava o lápis em direção a "sim" ou "não". Teve até gente "possuída". Em pouco tempo, o YouTube foi empanturrado de vídeos com a comprovação de que se tratava de um fenômeno paranormal legítimo. A verdadeira origem tinha pouco de sobrenatural. O "Charlie, Charlie Challenge" era uma campanha de marketing viral para promover um filme de terror.

4. Vídeo íntimo de Sabrina Sato

Após diversas celebridades "caírem na net", um suposto vídeo íntimo de Sabrina Sato surgiu no início deste ano. A apresentadora aparecia apenas de calcinha saindo da cama depois de uma suposta relação sexual com o homem que a filmava. Muitos acreditaram na veracidade das imagens naquela terça-feira de março. No fim, porém, o vídeo era apenas uma campanha publicitária lançada por uma marca de absorventes.

5. Jack Nicholson com Alzheimer

A Star Magazine, uma revista de fofoca, divulgou que o ator Jack Nicholson estava com sérios problemas de saúde. A notícia foi espalhada por diversos canais de entretenimento em todo o mundo em março deste ano. Nicholson estaria com Mal de Alzheimer, vivia recluso e havia perdido a capacidade de se reconhecer. O rumor não se confirmou: o ator de 78 anos está bem. Os boatos começaram em 2014, quando o ator disse não se lembrar das festas que participava com Mick Jagger na década de 1970. Quem se lembraria, não é mesmo?

6. Mundo acaba em setembro

Todo ano o mundo vai acabar. Em 2015, um asteróide se chocaria em setembro perto de Porto Rico e destruiria praticamente toda a América Central e parte da América do Norte. Os efeitos seriam sentidos em todo o planeta e o evento levaria o caos ao resto do mundo. Para conter a histeria, a Nasa fez um pronunciamento oficial negando a colisão naquele mês e afirmando a falta de evidência científica de algo semelhante. Como em todos os anos anteriores, ainda estamos aqui. Um dia alguém acerta.

7. Cama com terra de cemitério

O dono de uma fábrica de colchões teria feito um pacto com o Diabo e passou a colocar terra de cemitério em pequenos pacotes dentro de móveis, causando problemas espirituais aos que usavam os colchões amaldiçoados. Pelo menos foi isso que um pastor alegou no segundo semestre deste ano. A acusação viralizou e muitos rasgaram os colchões em busca da prova do acordo do fabricante com o Tinhoso. A substância parecida com terra era o dessecante RDR, usada para absorver a umidade e prevenir a proliferação de mofo, tal como a Sílica Gel Sintética. Felizmente, não eram saquinhos com terra de cemitério.

8. Amor em Mooloolaba

Natalie Amyot, uma suposta francesa grávida, pediu ajuda nas redes sociais para encontrar o amor de sua vida, um australiano com quem passou três meses. O vídeo teve 46 mil visualizações em um único dia e mobilizou a internet mundial em busca do pai da criança. Em outro vídeo publicado pouco tempo depois, a mulher revelou ao lado de um homem que o vídeo foi uma ação de marketing para promover a cidade de Mooloolaba.

9. Ministro norte-coreano executado com um tiro de bateria antiaérea

Hyon Yong-chol, ministro da Defesa da Coreia do Norte, teria sido executado com míssil por cochilar em um desfile militar em que Kim Jong-un estava presente. A notícia foi divulgada pela agência de Inteligência de Seul e difundida por uma agência de notícias. A morte nunca foi confirmada. Como a Coreia do Norte é um país fechado e seu líder político é famoso pela extravagância e pela brutalidade, não seria estranho que a história fosse verdadeira. Nunca saberemos.

10. WhatsApp terá alerta de print screen

Uma nova atualização do WhatsApp do fim de outubro deixou usuários brasileiros alvoroçados: o aplicativo notificaria quando alguém fizesse print screen em conversas. Mais um dos muitos boatos do WhatsApp. Pela quantidade de pessoas preocupadas com a falsa notícia, dá para perceber como é comum a prática e a necessidade de manter o decoro em qualquer conversa.

Menção honrosa: Luta contra os deficientes em Curitiba

Nem sempre os hoaxes são usados para divulgar produtos ou como brincadeira. No fim de novembro a prefeitura de Curitiba viralizou uma iniciativa contra os privilégios de deficientes. As imagens da placa rapidamente se espalharam pelas redes sociais e deixou muita gente revoltada. A iniciativa do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência é um exemplo de hoax do bem.

Reportagem de Fabio Andrighetto
fonte:http://tecnologia.uol.com.br/listas/larva-em-feijao-e-ate-acao-contra-deficientes-veja-noticias-falsas-de-2015.htm
foto:http://www.lavras24horas.com.br/portal/lavras-feijao-sustenta-a-renda-do-produtor-rural/

Flores no asfalto

Artigo de Vinicius Torres Freire, jornalista.


O jornalista observa a pilha de números nas planilhas e procura alguma informação para escrever um texto menos deprimente na virada do ano, dias de esperança para as pessoas normais.
Com lupa, acha um botão mínimo de esperança. Nem chega a ser uma flor que nasce no asfalto, como no poema de Drummond, que é feia, mas é flor ("Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio."). Mas é o que temos.
A confiança dos "agentes econômicos" dá um sinal de que, talvez, possa ter chegado ao fundo do poço. Pesquisas mostram a cada mês o que consumidores e empresários acham de sua situação atual e as expectativas quanto a compras, emprego, estoques, vendas, produção e investimento. O ânimo ainda está nas mínimas já registradas, mas num e noutro caso despiorou de leve, em dezembro.
A confiança do empresário industrial, do setor de serviços e do pequeno e médio empresário melhorou um tico, após meses de derrocada.
Isso não quer dizer que a produção vai crescer tão cedo (não antes do segundo semestre). Quer dizer apenas que, talvez, queiram os céus, o desânimo parou de crescer. No caso do comércio e dos consumidores, a coisa ainda é triste. Entende-se.
Pode ser que parte da indústria e do setor dos serviços sinta uma brisa de melhora por causa da desvalorização do real. Compra-se muito menos lá fora, viaja-se menos para o exterior. Gasta-se um pouco mais aqui, pois ficou caro comprar importados.
O varejo e consumidores, porém, sentem cada vez mais o efeito retardado da recessão, que começara já em 2014. Emprego e consumo começaram a apanhar neste ano. Em termos anuais, o rendimento nacional médio havia apenas estagnado, até setembro (último dado disponível).
Aqui, então, a flor de Drummond dá uma murchada. O desemprego vai aumentar, o rendimento nacional médio do trabalho vai cair e reduzir o consumo outra vez. O varejo deve encolher 4% em 2015. Entre 2004 e 2012, as vendas do varejo cresciam 8% ao ano, em média.
Mesmo que a economia pare de piorar, que a produção (PIB) fique estagnada durante 2016, o efeito "nas ruas" deve ser mais sentido.
Estagnação no caso significa que, trimestre sobre trimestre, a produção (o PIB) não aumenta em 2016, ficando no mesmo nível deste trimestre final de 2015. No entanto, o quarto trimestre de 2015 terá sido pior que o terceiro trimestre, que foi pior que o segundo, que foi pior que o primeiro de 2015.
Na média, a economia (produção) de 2016 vai ser, portanto, menor que a de 2015, pelo menos 2% menor, em caso de estagnação daqui em diante. Uma economia menor em tese precisa empregar menos gente. Mesmo que a economia se recupere, as empresas terão capacidade ociosa: podem produzir mais sem comprar mais equipamentos ou sem contratar mais gente. O efeito da recessão no emprego vem mais tarde; o efeito da recuperação também.
A recuperação, porém, depende das condições macroeconômicas (gastos do governo, inflação), ainda um caos horrendo. Dá para melhorar, previsão não é destino nem maldição. Com um governo ausente e alienado da realidade, porém, vai ser difícil mudar.
Enfim, o jornalista espera estar vergonhosamente errado sobre 2016. Um ano de paz para todos nós. 



fonte:http://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciustorres/2015/12/1724270-flores-no-asfalto.shtml
foto:http://vestibular.uol.com.br/album/2014/05/26/atualidades-problemas-da-copa-por-meio-das-charges.htm

Por que não nascem bebês em Fernando de Noronha?

"É um pesadelo, você acha que nunca vai acabar. É uma sensação horrível você estar dentro de um quarto presa, às vezes sem dinheiro, longe da minha casa e da minha família."
A frase acima não descreve uma experiência de exílio ou na prisão, mas a espera da noronhense Laisy Francine Costa e Silva, de 19 anos, pelo primeiro filho. Como todas as gestantes do arquipélago pernambucano – que é um dos principais destinos turísticos do Brasil, santuário ecológico e Patrimônio Natural da Humanidade, segundo a Unesco –, ela precisa sair de casa no sétimo mês de gestação para dar à luz em Recife, a 545 km de distância.
Em 2004, foi desativada a única maternidade na ilha, no Hospital São Lucas, sob a justificativa de que o custo de manutenção da estrutura era alto demais para a média de 40 partos por ano realizados na ilha principal, a única habitada. Há 10 anos, no entanto, o impedimento causa indignação entre os moradores, que falam em "violação do direito de nascer".
Agora, o documentário Ninguém nasce no paraíso, do brasiliense Alan Schvarsberg, conta a história de mães insatisfeitas com a situação. Ele descobriu o tema quando ministrava uma oficina de videoativismo em Noronha há dois anos.
"Estávamos falando sobre temas que eles queriam abordar e a proibição do parto foi a que mais apareceu. Mulheres e homens diziam que queriam falar sobre isso, mas que tinham receio de falar", diz.
"O ruim é que você sai da sua casa", disse à BBC Brasil Monique Souza, de 27 anos, que teve sua primeira filha em 2013 e é uma das entrevistadas no documentário. "Tenho uma casa em Recife, mas meu marido ficou (em Noronha). Tenho um irmão especial e minha mãe teve que deixá-lo lá. E ainda tivemos que sustentar duas casas durante esse tempo."
Por lei, não há proibição formal para o nascimento de crianças em Fernando de Noronha. No entanto, a Coordenadoria de Saúde do arquipélago, que tem sede em Recife, se encarrega de fazer com que as mães deixem o local a partir da 34ª semana de gestação – mesmo que seja preciso insistir.
"Tinha umas 40 mulheres grávidas aqui na época e umas quatro iam dar à luz no mesmo período que eu. Elas me chamaram para pagar um médico para fazer o parto, mas depois as assistentes sociais me explicaram que não tem UTI, que se acontecesse algo, podia ser um problema", relembra Monique.
"Ouvi falar que chegaram a dizer a outras mães que a culpa seria delas, se o bebê tivesse complicações."

'Olhando para as paredes'

De acordo com a coordenadoria de saúde da ilha, as gestantes fazem pré-Natal pela rede pública em Noronha até o sétimo mês de gravidez e, depois, são encaminhadas para Recife. Todas têm suas passagens de ida e volta – incluindo um acompanhante – pagas. O voo dura 1 hora e 20 minutos.
Em casos específicos, podem também receber hospedagem no hotel Uzi Praia durante todo o período na capital pernambucana, com três refeições e transporte para as consultas médicas. E seus partos são feitos do IMIP, hospital de referência em pediatria na capital.
Nem todas as mães, no entanto, se dizem satisfeitas com as condições.
Quando teve o primeiro filho, em 2011, Silvia Souza da Silva, de 22 anos, diz não ter recebido assistência apropriada. "Eles só me deram a passagem e marcaram para eu ir numa clínica. O médico entrou mudo e saiu calado. Tive meu filho em outro hospital porque uma amiga da minha família fez meu parto."
"No meu segundo filho (nascido há cerca de três meses), exigi o hotel porque soube que outras pessoas tinham ficado lá. Se você não exigir seus direitos, eles não dão assistência a você."
Uma das queixas mais comuns entre as mães é a solidão e a falta de opções de lazer durante a espera pelo nascimento do bebê – especialmente quando não se tem tanto dinheiro.
"A gente ia do hotel para o hospital e do hospital para o hotel. É difícil ficar dentro de um quarto olhando pra as paredes. Eu levei meu filho de 4 anos, e para ele também foi difícil. Aqui em Noronha ele brinca no quintal, pode correr. Lá, só podia ficar no quarto", relembra Silvia.

'Falta de recursos'

Para Marilde Martins da Costa, de 59 anos, que cumpre seu terceiro mandato no Conselho de Noronha, o "problema é meramente político".
"Não justifica termos uma parturiente ou duas em um mês, termos um voo saindo diariamente para Noronha e não podermos ter um médico que venha fazer um parto aqui e um anestesista. Eles viriam num dia e voltariam no outro", disse à BBC Brasil.
Segundo a coordenadora de saúde de Noronha, Fátima Souza, é inviável reabrir a maternidade em Noronha, principalmente por falta de recursos para sustentar a operação.
"Uma maternidade, para funcionar, precisa de toda uma estrutura. E nós temos, no máximo, 40 partos ano em Noronha. Não teria como manter essa estrutura e não teria pessoal suficiente", disse à BBC Brasil.

"Eu acredito que essas pessoas estão resguardadas de um problema maior. Porque deixar essas pessoas na ilha sem as condições para atendimento de alta complexidade, que a gente sabe que pode acontecer, é um complicador muito maior do que quaisquer transtornos por questões emocionais."
Souza diz que, para manter a operação permanente da maternidade do Hospital São Lucas, o único da ilha, seriam necessários pelo menos R$ 150 mil reais mensais. Segundo dados da Coordenadoria de Saúde, a administração gastou cerca de R$ 76 mil só com as passagens de avião de ida e volta das 30 mulheres que tiveram filhos naquele ano e seus acompanhantes. Em 2015, até outubro, o gasto foi de R$ 82 mil.
A pasta ainda informou à reportagem que o distrito de Fernando de Noronha recebeu cerca de R$ 2,7 milhões em repasses dos governos estadual e federal para a saúde em 2014. Nesse ano, a cifra caiu para menos da metade – pouco mais de R$ 1 milhão.
Questionada pela reportagem, o governo de Pernambuco não respondeu se seria possível utilizar, parte da arrecadação da ilha com a Taxa de Preservação Ambiental – cobrada diariamente de todos os visitantes – para reativar a maternidade da ilha. Em 2014, segundo informações obtidas via Lei de Acesso à Informação, a arrecadação com a taxa foi de quase R$ 16 milhões.

'E a fome de madrugada?'

Laisy Francine teve seu primeiro filho há um mês, acompanhada da irmã e do sobrinho de um ano. Ela falou com a reportagem da BBC Brasil pouco antes de dar à luz Arthur. "Não tenho o que falar do hotel, o pessoal é atencioso. Só do que tenho que reclamar é terem me tirado do conforto da minha casa e da minha família. A situação é muito ruim", disse, ansiosa, ao telefone.
Segundo Laisy, que não tem parentes com quem se hospedar em Recife, uma assistente social em Noronha chegou a negar sua solicitação de hospedagem no hotel, com a justificativa de "corte de gastos". "Fiquei logo nervosa, comecei a chorar", lembra.
A Coordenadoria de Assistência Social nega que um corte de gastos tenha sido o motivo da negativa inicial, mas Laisy afirma que teve que insistir para conseguir a hospedagem. "Nunca vi isso. Até no interior mais brabo de Pernambuco tem maternidade. Eu ameacei ir na Justiça, procurar meus direitos. Dias depois me disseram que 'depois de muitos argumentos' conseguiram hotel pra mim."
Com a gravidez, ela teve de deixar o emprego de vendedora de sorvete, em que ganhava R$ 50 por dia. Sua mãe, que tem uma barraca de praia, envia dinheiro semanalmente para as despesas das irmãs.
"Se eu não tivesse minha mãe, como eu ia fazer? Vê só o que eles não estão passando lá pra mandar esse dinheiro pra a gente. Ela manda de pouco em pouco, mas já gastei de R$ 5 mil a R$ 7 mil", afirma.
A assistente social que se encarrega da assistência às mães em Recife, Talita Lima, diz que não é comum receber queixas relativas à angústia das gestantes.
"Algumas delas já colocaram questões no hotel, como lençóis que precisam trocar mais vezes, a comida que acham que pode estar mais gordurosa. Procuramos o pessoal do hotel para conversar e resolver as situações", disse à BBC Brasil.
Todas as mães com quem a reportagem conversou, no entanto, reclamaram do custo emocional de serem separadas de suas famílias, com pouco dinheiro e poucas opções de lazer no último período da gestação.
"Se a pessoa não for forte, ela entra em uma depressão muito profunda, porque para sair aqui tem que ter muito dinheiro. Eu não sei andar aqui, tenho que sair de táxi", disse Laisy.

'Nó de Noronha'

Alan Schvarsberg, diretor do filme Ninguém nasce no Paraíso, acredita que a expressão "nó de Noronha", que aprendeu na ilha, pode ajudar a explicar o porquê de as reclamações das mulheres nem sempre chegarem às autoridades.
"O 'nó de Noronha' expressa a relação de interdependência da comunidade diante da realidade de viver numa ilha. Pelo fato de tudo vir do continente, até a água potável, as pessoas todas se conhecem e dependem umas das outras e da administração. Então há o receio de falar alguma coisa e sofrer represálias", afirma.
"A meu ver, esta é uma forma de extermínio muito perversa da população local. As mulheres podem registrar seus filhos, nascidos em Recife, como noronhenses, mas a gestação está se tornando algo muito traumático. Isso está fazendo com que, pouco a pouco, menos mulheres queiram engravidar", afirma.
Mesmo animada com a chegada do bebê, Laisy afirma que vai pensar duas vezes antes de dar a ele um irmão ou irmã.
"Eu gosto muito de criança, mas para passar isso de novo eu não quer ter filho mais não, Deus me livre. Só se vier morar aqui fora", diz.

Reportagem de Camilla Costa
fonte:http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151113_noronha_partos_cc#orb-banner
foto:http://belezasnaturais.com.br/belezas-naturais-conheca-as-belezas-naturais-de-fernando-de-noronha/